Penha Garcia, uma viagem de 500 milhões de anos

Texto: Ruthia Portelinha | Fotografias: Pedro Martins

Quando se pergunta a um amante de viagens qual seria a próximo destino da lista, a resposta remete, quase sempre, para um país exótico e longínquo. Seja porque o desconhecido nos atrai, ou porque o que está perto, por estar sempre disponível, se banaliza, a verdade é que ignoramos alguns locais intrigantes mesmo à nossa porta. 

Contrariando esta tendência, destaco Penha Garcia, uma pequena vila raiana do concelho de Idanha-a-Nova, onde os adeptos do turismo na Natureza não podem deixar de experimentar a Rota dos Fosséis. Com cerca de três quilómetros (pequena rota, com marcações a amarelo e vermelho), este é um percurso homologado e acessível a quase toda a gente.
A caminhada começa à entrada da vila, com uma subida um pouco íngreme, rumo à Igreja Matriz (que acolhe uma interessante escultura gótica, em pedra de ançã, da Virgem do Leite) e ao Castelo, onde nos aguarda a primeira recompensa: uma paisagem esmagadora e um ar tão puro que os nossos pulmões urbanos estranham! A norte, as escarpas emolduram o rio Ponsul e é precisamente essa a direção que seguimos, em busca de icnofósseis.
Os icnofósseis são marcas, gravadas na rocha, das movimentações de criaturas marinhas - as trilobites - que ali viveram muito antes dos dinossauros, quando o oceano ainda cobria a paisagem. Estas “cobras pintadas” ou “pedras escrevidas”, para usar o epíteto popular, são afinal um achado geológico extraordinário e um dos tesouros do Geopark Naturtejo, o primeiro do género em Portugal, membro da rede de geoparques da Unesco. Em poucos sítios do mundo se encontram vestígios tão bem preservados da Era Paleozóica (há quase 500 milhões de anos). 
Exploradas as arribas, em busca daquelas jóias geológicas, iniciamos a descida para o rio, parando no conjunto de moinhos recuperados que testemunham uma tradição moageira fortemente enraizada (o pão é outro cartão de visita de Penha Garcia). Num dos edifícios, habitantes e forasteiros depositam as pedras com marcas das trilobites que encontram durante as suas explorações e que, no futuro, serão exibidas num Centro de Interpretação.

Partimos novamente, serpenteando pelo vale, para nos embrenharmos no casario, onde podemos surpreender mais icnofósseis, uma vez que os penhascos vizinhos forneceram matéria-prima para várias construções. Uma nova paragem se impõe, para uma última homenagem à fortaleza de Penha Garcia e também ao cabeço de Monsanto que irrompe aquela lonjura, a sul. Um dia destes, O Berço do Mundo dará atenção a esta bela aldeia histórica
Por hoje, é hora de retemperar forças com um almoço típico. Para os apreciadores e também para aqueles que estão sempre abertos a novas experiências, recomenda-se uma tenra carne de caça (perdiz, veado, javali…), acompanhada por cogumelos silvestres. Aplacado o apetite inicial, as conversas multiplicam-se à mesa e o assunto retorna aos icnofósseis. Por momentos, todos nos transformamos em paleontólogos, a língua solta os mais elitistas termos científicos.
E vocês, conheciam este tesouro português?

P.S: Este Post, faz parte do projecto Simbioses - histórias com imagens. A Ruthia Portelinha que assina o texto é jornalista e escreve sobre viagens, podem seguir o seu trabalho no seu blogue: http://bercodomundo.blogspot.pt

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