Santiago de Compostela...a surpresa da viagem

Chegamos a Santiago, a pouco e pouco a cidade histórica e cultural revela-se uma surpresa, sente-se a multiplicidade de raças e nacionalidades, esta não parece ser uma cidade da Galiza, mas uma cidade do mundo.

Depois de comodamente instalados partimos à sua descoberta e não é dificil começarmos a sentir o poder visual e de escala da catedral barroca no núcleo histórico, cada passo que damos lá está ela ao longe, majestosa e convidativa, é para lá que vamos, porque todos os caminhos vão lá dar, mas vamos com calma, porque cada passo que damos descobrimos algo que nos obriga a parar e a fotografar.

Vamos neste labirinto de ruas e a quantidade de peregrinos aumenta cada vez mais, é ano de "Xacobeo" ou ano santo, percebe-se nas ruas movimentadas, pelos vulgares turistas, mas também pelos peregrinos que fizeram os caminhos de santiago e que agora já no Obradoiro, aproveitam para descansar e ficar deitados no chão como que se um culto se tratasse, a grandiosidade deste lugar percebe-se quando olhamos para a catedral, é realmente grande, é bonita como nas imagens e é uma surpresa que nos obriga a ficar imóveis sem tirar uma única imagem, depois sim, penso, tenho de levar esta imagem comigo. Entramos no mar de gente e a progressão é lenta, fazemos a visita turística com dificuldade e descansamos com o sol a desaparecer.

Mais um dia de descoberta, este mais organizado e aí vamos nós pelas ruas cheias de gente à procura do cosmopolita Café Casino, Palácio de Raxoi, igrejas muitas e ruas com muitos locais de petiscos galegos. A pouco e pouco tudo vai acontecendo lentamente deixamos de pensar nos edifícios por mais interessantes que sejam e começamos a focar-nos nas pessoas, encontramos um retratista que em pleno séc. XXI convida os turistas a fazer retratos à moda antiga, com as velhinhas chapas da câmera de grande formato, os músicos de rua que nos transportam para os sons do folk das terras altas da escócia, e os blues americamos, e como não podia deixar de ser a gaita de foles galega, tocada por um rapaz novo, trajado a rigor e que nos dá sonoridades mais locais e também muitos palhaços e malabaristas, que atraem multidões de miúdos e graúdos.


E o espectáculo tem de continuar e nós também, descobrimos finalmente a famosa tasca do Gato Preto, onde muitos turistas fazem fila para provar os petiscos de marisco e porventura provar em tigela e no balcão o vinho da casa, que continua a ser aí servido desta forma curiosa. Tempo ainda para descobrir um grupo de amigos liderados por Jonay Hejty que durante meses fizeram todos os caminhos de santiago num total de 4000 km, com grande orgulho nos mostram o seu tesouro, os seus passaportes que levam todos os carimbos que formam a memória desta grande aventura, pedem-nos para os fotografar e acedemos ao seu pedido e percebemos que são pessoas felizes, com grande respeito pela vida e por coisas simples, contam-nos que fizeram quase todos estes quilómetros sem dinheiro e que preferiam fazer esta viagem a ter todo o dinheiro do mundo, a imagem é pensada e por fim damos um papel principal aos seus passaportes, que sem rosto, mas com muitas histórias e memórias ficam de frente para a catedral de Santiago, local onde todos os caminhos terminam, são memórias que ficam nestes cinco peregrinos para o resto das suas vidas.
São seis da manhã e vamos descobrir Santiago sem pessoas e turistas nas ruas, criámos durante estes dias esta fantasia, que esta cidade seria diferente durante a madrugada. Percebemos que realmente as ruas estão agora sossegadas e despejadas, começamos a sentir a verdadeira alma desta terra, cruzamo-nos com alguns peregrinos que a essa hora chegam finalmente ao fim do seu caminho. A luz é escassa mas mais bonita e ilumina ainda só o topo dos edificios, obriga-nos a olhar para cima e a descobrir algo de novo.

Para terminar esta viagem, visitamos o Mercado de Abastos, local de granito, bem organizado e onde nos chegam as cores e aromas do peixe e marisco, fruta e legumes da Galiza, e onde pequenos agricultores em bancas nos convidam a experimentar os famosos pimentos de padrão, povoação próxima de Santiago, que dá nome a estes pimentos, descobrimos aqui que podemos comprar só dos que não picam, acabamos por levar também dos que picam, senão algo se perderia.

Descobrimos no fim que muito ficou por ver, ainda bem, pois assim ficamos com vontade de voltar para ver esse pedaço do que quis o destino não mostrar, levamos muitas memórias e imagens que partilhamos aqui, uma mão cheia somente....porque o resto está tudo lá!

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